top of page

Quem vê cara

  • Foto do escritor: Fernanda Rufino
    Fernanda Rufino
  • há 3 dias
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 17 horas

Qual a cara do câncer? Em 2023, vivenciei um dos momentos mais difíceis da minha vida. Foram muitos médicos, exames somados a dias de espera, angústia e ansiedade em níveis elevadíssimos. Mas também foram dias em que continuei trabalhando, estudando, vivendo a vida como era possível viver.

Descobri um nódulo maligno na tireoide no início do ano fazendo exames de rotina. Eu não sentia nada específico, trata-se de uma doença silenciosa à princípio. Se não fosse a minha endocrinologista pedir uma ultra de tireoide, não ia saber tão cedo. Até descobrir, tive que fazer exames de investigação e esperar duas longas semanas pelo diagnóstico: carcinoma papilífero, um tipo de câncer da tireoide.

Qual a cara do câncer? Foi muito difícil me deparar com um cenário desses. Por que eu? Uma mulher jovem, cheia de planos e sonhos se deparar com isso. Primeiramente, sem muito conhecimento, eu só pensava em morte; na minha ausência na vida das pessoas, na minha família tendo que enterrar outra pessoa próxima em pouco tempo desde a morte do meu pai, no fato de que minha sobrinha não ia ter lembranças de mim.

Tive ser muito forte. Muito mais do que imaginava ser. E, para isso, tive que me preservar e achei melhor compartilhar, num primeiro momento, com pouquíssimas pessoas. Sei que tenho muita gente por mim, mas não ia conseguir aguentar possíveis olhares piedosos. De pena, já bastava a que tinha de mim mesma.

Qual a cara do câncer? Agora consigo dizer para vocês. Registrei alguns momentos dessa jornada: dias após a descoberta do nódulo, depois de fazer a biópsia, no Carnaval já sabendo que poderia estar com a doença, no dia da cirurgia, num pós-cirúrgico levemente complicado, praticando exercícios, no preparo pra iodoterapia até a conclusão do ciclo do tratamento.

Peço desculpas para meus amigos e colegas quando menti e falei que estava tudo bem quando não estava. Mas agora sim está tudo bem. Estou seguindo a minha vida, fazendo os acompanhamentos necessários, de uma forma diferente do que soube até aqui, sendo uma nova versão, de quem agora conhece o mais fácil e o mais difícil do que eu posso ser.


Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal

Comments


bottom of page